Na Missa da Ceia do Senhor, o que deve ser levado em consideração

Eurivaldo Silva Ferreira

1. O canto inicial abre a celebração desta noite. É um texto paulino (Gl 6,14), que exprime o caráter pascal da vida cristã: uma vida que se gloria da cruz do Senhor Jesus, unicamente no qual se encontra a salvação: “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, que é nossa salvação, nossa vida, nossa esperança de ressurreição, e pelo qual fomos salvos e libertos”.

2. As orações sublinham o aspecto sacrificial e nupcial do banquete eucarístico; o seu caráter memorial do sacrifício do Senhor; enfim, pede-se para conseguirmos, através da celebração deste mistério, a plenitude de caridade e de vida, e para sermos, um dia, acolhidos entre os convidados no glorioso banquete do céu.
O prefácio usado neste dia evidencia o caráter sacramental, sacrificial e escatológico próprio de toda celebração eucarística: a missa é proclamação eficaz da morte salvífica de Cristo até a sua vida (cf. 1Cor 11,26).

3. As leituras desta missa nos falam do rito pascal do AT e do NT, tendo no centro a ceia pascal celebrada por Jesus com os apóstolos, que funciona como ‘dobradiça’ entre a Páscoa ritual hebraica e a cristã.
Salmo 115: reunida no Espírito Santo para celebrar a Ceia do Senhor, a Igreja responde à palavra de Deus com um salmo de ação de graças, de bênção para o grande benefício recebido no dom da eucaristia. O refrão do salmo, cantado por toda a assembleia (o texto de Paulo: 1Cor 10,6), pretende ser uma celebração do natal do cálice, isto é, do dia em que Cristo toma o cálice do seu sangue, o verdadeiro cálice da salvação, e o confia à sua Igreja: “O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor”.

4. O lava-pés, introduzido na missa em Jerusalém por volta do século V, tem acento linha da “comemoração histórica” como recordação de um gesto de Jesus. Este gesto exprime e condensa um rico conteúdo proclamado pela liturgia da palavra e atuado pela eucaristia: o sangue da aliança se entrelaça na unidade na caridade dos remidos pelo sangue de Cristo, o mútuo serviço na humildade e na caridade. Está na linha de dos acontecimentos da paixão. O gesto de se lavar os pés deve ajudar a compreender melhor o grande e fundamental mandamento da caridade fraterna, que se expressa no serviço a quem mais necessita.

5. Os gestos de Jesus na sua ceia iniciam-se em forma de sinal, sob o prisma do próprio banquete nupcial, aquele que deverá ser no céu, no Reino do Pai, aquele mesmo banquete messiânico anunciado pelos profetas. O próprio Jesus pediu que seus discípulos perpetuassem esse gesto, e concluiu com a frase: “Eu garanto a vocês: nunca mais beberei do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no reino de Deus” (Mc 14,25).

6. A transladação do Corpo do Senhor para uma capela à parte é a solenização de um gesto prático: levar a um lugar designado o pão eucarístico que sobra. Tiram-se as toalhas do altar, e se já não foram cobertas, as imagens dos santos e a cruz são veladas com um véu ou tecido roxo.

7. É bom que toda celebração seja calcada num tom de alegria, mas uma alegria ainda contida, mesmo porque, naquela noite, Jesus também estava contente: “Desejei muito comer com vocês esta ceia pascal, antes de sofrer” (Lc 22,15); e, para a alegria dos apóstolos, revelou-lhes aspectos do mistério cristão: “Eu disse isso para que a minha alegria esteja com vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15,11). Desejamos que essa alegria seja completada pelos dias que se seguem.

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