O Dia da Celebração da Ceia do Senhor e a memória de sua entrega ritual



Eurivaldo Silva Ferreira

Já que a Quaresma se propôs como um itinerário que nos levou a uma espécie de ‘caminho de retorno’ a uma vida nova que tem seu cume na páscoa, agora a missa da ceia é início páscoa, pela qual o Senhor faz novas todas as coisas: nova páscoa, vida nova. Esta vida nova nos é dada pela celebração do mistério, pela qual relembramos a cada ano os mesmos gestos que Jesus fez, a fim de ‘chegarmos à plenitude da caridade e da vida’ (Oração de Coleta). Trata-se de entender como um itinerário contínuo.

Ao participarmos da Ceia do Senhor sentimos o impulso do Espírito que age em nós, permitindo-nos devotar a nossa vida a uma causa, a causa do Reino, como Jesus fez em seu amor até o fim. A Campanha da Fraternidade é um belo exemplo de um gesto exterior que tem como origem uma atitude espiritual.

A atitude deste dia é a de dar graças, bendizer ao Senhor. ‘Jesus tomou o pão nas mãos, deu graças e o partiu e deu a seus discípulos’, diz a Oração Eucarística IV. Quem é que tem a coragem de, antes de morrer, dar graças? Só uma causa maior é que leva uma pessoa a fazer isso. As ‘noites traiçoeiras’ só podem ser transformadas em noites de glória, se, no meio da escuridão, tivermos a coragem de dar graças, mesmo estando sob a penumbra de nossa fragilidade, de nossas trevas. Só um reconhecimento de nossa própria incapacidade é que nos impulsiona termos a coragem de olhar a vida a partir de Deus e descobrir que o sofrimento pode ser o começo de uma vida nova. Em todos os dias morremos e ressuscitamos. A ação de graças nasce a partir da nossa possibilidade de podermos sempre recomeçar.

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