O sentido das leituras no tempo da Quaresma
Eurivaldo Silva Ferreira

Além de ser Deus
o grande convocador para o reconhecimento de sua misericórdia, temos uma
atitude pessoal também, a de nos deixar reconciliar-nos com Deus (cf. 2ª
leitura da Quarta de Cinzas). Nessa atitude pessoal somos lembrados que Deus um
dia se reconciliou com a gente. De certa forma, nós, ao sermos colaboradores de
Cristo, participando de sua graça pelo batismo, somos chamados a sermos
embaixadores da misericórdia de Deus, anunciando-a aos outros (cf. Salmo da
Quarta de Cinzas). Neste sentido a penitência só tem sentido se traçarmos um
plano de reconciliação com Deus e com os outros.
As três
recomendações evangélicas: jejum, oração e esmola.
Jejum: sinal conectivo entre a penitência e a
conversão interior; abster-se do que é demais, mas também do pecado; o jejum é
uma expressão típica da ascese quaresmal, que conduz a uma vida nova, fruto da
Páscoa de Cristo; há aí também a intervenção de Deus (somente teu Pai que vês
que está jejuando te dará a recompensa); aproximar-se da luz, assim como Deus
quer.
Oração: consiste em participar na assiduidade
da oração de Cristo. Oração ligada à prática anterior, ampliando espaços para
Deus penetrar e nos inundar com sua iniciativa. Não pode ser vista como uma
forma de manipular Deus (assim como aqueles que gostam de rezar em pé, nas
sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens). A oração
é a concretização da manifestação do sacrifício do espírito contrito e
penitente. A oração é o sinal externo do espírito daquele que se coloca em
atitude de oferta.
Esmola: superar o apego às coisas terrenas (cf.
Prefácio II da Quaresma). O jejum deve ser revertido, sobretudo, na oferta
daquilo que se deixou de experimentar, doando aos mais necessitados.
1º Domingo: Início de uma grande catequese batismal
(2ª leitura) que nos impulsiona a vivermos a realidade da misericórdia de Deus
(1ª leitura), seu amor sem medida, a entregar-se confiantes a ele (Salmo),
apesar do mal que insiste em nos visitar (Evangelho).
2º Domingo: Seguindo o caminho da confiança e da
entrega a Deus (1ª leitura), somos interrogados e nos questionamos sobre quem
está do nosso lado, o mal ou o bem? (2ª leitura). Assim, a manifestação da
glória do Filho de Deus, visando o sacrifício futuro de si, nos é apresentada
como sinal de esplendor, a fim de que todos contemplem este mistério
(Evangelho).
3º Domingo: Seguir a Deus neste itinerário de
conversão significa também obedecer a certos critérios estabelecidos por ele
mesmo (1ª leitura). Esses critérios se colocam tanto na linha da moral
(mandamentos), quanto na linha da compreensão espiritual (sabedoria e sinais
legitimadores) (2ª leitura). Obedecendo a Deus nesse caminho pedagógico, nós
purificamos nosso próprio templo, que são nossos corpos, tendo como paradigma o
templo que é Cristo (Evangelho).
4º Domingo: É Deus quem deseja a renovação de cada
um. Ele não castiga, mas reconstrói (1ª leitura). Reconstrói-nos também quando
quis que ressuscitássemos com Cristo, (2ª leitura), a fim de que, passando por
sua morte, abandonemos as obras do mal e tenhamos a vida eterna (Evangelho).
5º Domingo: Sempre Deus nos lembra que fez um pacto
com a gente, recordando a sua aliança (1ª leitura). Nós é que abandonamos, e
até nas mais terríveis situações esquecemos que Deus está com a gente. Mas não
foi assim com Cristo, ele foi obediente e não se esqueceu dos planos de Deus
(2ª Leitura), pois acreditou que o Pai o glorificaria, a fim de que nós sejamos
salvos por ele (Evangelho).
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