Advento como chave de uma esperança para um mundo melhor: o projeto cósmico de Deus

(A partir das aulas de Escatologia, do querido Prof. Reynold Blank, na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção – SP)
Eurivaldo Silva Ferreira

Incertezas e esperança perdida
Vivemos sob a exposição das características de um mundo pós-moderno que perdeu o sentido da esperança. As pessoas perderam a esperança e sua grande utopia desmoronou. Tudo aquilo que vinha marcando o imaginário de muitas gerações, desmoronou.

Esse ideal, presente no imaginário popular, foi pensando e maquinado sob o impacto de sistemas de governo que impunham em seus discursos o sonho de um dia em reatar a esperança das sociedades. Assim aconteceu com o modelo do comunismo, do socialismo, das ditaduras etc. Todos eles prometeram resolver os problemas das pessoas, e que iriam “repartir o bolo”, e todos viverem melhor numa sociedade capitalista, mas sobre o impacto de um neo-capitalismo, a partir de uma de uma busca, de um lucro a qualquer preço, sobremaneira. A grande utopia de um iluminismo, “iluminado” pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, também evaporou.
Num dado momento, também para os cristãos e católicos, restou a grande utopia de uma Igreja de comunhão e participação, sob o impacto de um neoconservadorismo, de um neocentralismo, que de novo vê-se subindo ao poder eclesial. No mundo católico, vê-se também que o ideal de comunhão-participação, já pensado em Medellín, vai por água abaixo.
A partir desta constatação e sob esse pano de fundo, é que o tempo do Advento nos coloca como cenário o propósito de Deus ao ser solidário com o homem, com a mulher, participando também de suas angústias e sofrimentos. Neste tempo, extraindo seu conteúdo espiritual, fica nítida a ideia de que Deus formulou uma base para esse mundo.
Quando se fala de Deus, um primeiro problema, para a maioria dos cristãos, está em dirigir o olhar para o passado. Como se diz na música: um “flash-back”... Fala-se de um Deus que se revelou dois mil anos atrás em Jesus Cristo. Fala-se de um Deus que fez isso e aquilo há tempos atrás. Para um grande número de cristãos, o que importa é manter essa tradição, do Deus que fez tudo. Embora essa linha de raciocínio tenha se desvirtuado, passando o “faz tudo” como a grande expressão mágica do momento. A ideia de que Deus é um mago (que faz mágicas) circunda todas as propostas de encontro com o divino. Infelizmente o mundo cristão católico também está entrando nessa.
Consideremos que é importante também olhar para o passado, para a tradição, mas o perigo é que se fique somente no passado. O que é importante é que Deus sempre se revelou no passado, orientado para o futuro, idealizando e formulando projetos que se realizarão no futuro. É exatamente num contexto de passado que Deus chama a sair de situações cimentadas, fixadas e a começar uma caminhada rumo a novos horizontes.
O profeta Isaías, nos ciclos litúrgicos dominicais dos Anos A e B, vem dizendo isso durante todo o Tempo do Advento e se estende ao Tempo do Natal. A história de Abraão, por exemplo, é exemplar como a de uma história para um futuro que ainda não começou. Então concluímos que Deus é um Deus orientado para um futuro. É no futuro que se vai realizar o escathom, o projeto final, seja no ser humano, seja no cosmos. Esse pensamento ainda não morreu, mas é no futuro que se vai abrir para nós os nomes tradicionais que conhecemos, dentre eles a esperança. É no futuro que o que Deus imagina para esse cosmos, se vai realizar, na concretude seu Reino.
Na afirmação de que Deus é Deus no futuro, nós todos temos uma tarefa, a de sermos instrumentos desse Deus, através dos quais ele mesmo vai realizar esse projeto de futuro. É através de nós que ele vai realizar isso, assim como realizou muitas coisas tempos atrás por meio de juízes, patriarcas, reis e profetas. Seria tão bom se Deus agisse de forma mágica, e nós ficássemos sentados, nos “engordando” espiritualmente. Há muitos que ainda pensam assim. Só que Deus não faz, ele mesmo diz: façam vocês, vocês são capazes. Nós estamos envolvidos nisso, pois não somos simples observadores.
O Tempo do Advento nos faz mergulharmos nesta mística de participantes do projeto futuro de Deus, na esperança da firme certeza da realização de seu Reino entre nós, quando da irrupção de sua vontade, como num treinamento para o que realizar-se-á na parusia, no final dos tempos.

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