Partilhando o encontro nacional da Rede Celebra de Animação Litúrgica
“Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer...”
A música de Caymi inspirou-nos o itinerário, e nós topamos subir na “jangada” do núcleo do Ceará e trabalharmos juntos no mar da Liturgia, reunidos em Fortaleza na casa de Retiro das Irmãs Josefinas, no Bairro de Messejana, de 16 a 22 de Julho de 2012. Partilha de companheiros e companheiras que traziam em suas experiências as riquezas espirituais inalienáveis da Liturgia, fé e vida, sede e esperança, luta e confiança. Na chegada já sentimos no jeito todo fraterno e carinhoso dos anfitriões cearenses, uma acolhida viva e atenciosa, em especial naquela que de tanto cuidado “não dormia nem cochilava”, como o salmista, a nossa querida Irmã Ivani Brito. Foi certamente uma delícia de chegada!
Aos poucos nos reencontramos e os abraços sinceros trocados entre irmãos e irmãs, deram o mote do que viria a ser toda aquela semana de convivência: festa de uma família reunida no mesmo ideal. Amizades de longas jornadas ou recentemente construídas, todos renovamos os “nós” da caminhada da Celebra.
Diante de nós, abria-se uma desafiadora estrada a percorrer, onde o sonho que está no nº 21 de nossa carta de princípio parecia nos provocar ainda mais: “libertar, progressivamente, a prática celebrativa dos esquemas de dominação para chegarmos a um jeito de celebrar que manifeste o caráter igualitário e participativo da comunidade eclesial”. Para tanto lembramos que estão em nossas mãos, as atuais e pertinentes propostas do Concílio Vaticano II, especialmente a Constituição sobre a Liturgia. Chegamos com sede e tinha água abundante, jorrando das celebrações, das conferências, dos trabalhos de grupo e da missão, tudo isso sob o signo do jeito novo de ser Igreja e de celebrar que a Rede ao longo de seus 16 anos vem construindo, motivando-nos profundamente.
Núcleos de quase todos dos estados do Brasil foram representados, podendo-se sentir que a chama viva do Espírito de Deus, que queima a tentação do individualismo e do subjetivismo, esteve sobre nós durante toda esta semana, firmando nosso trabalho feito em mutirão. Era forte esta presença, nos ensinando a abrir os ouvidos de nossas celebrações, ao clamor que nos vem das “urgências do mundo”, que grita por justiça, paz e solidariedade entre os povos e os governos, entre as religiões e a humanidade, para que todos nos reconheçamos irmãos e zeladores desta casa comum que é o planeta Terra. Como aos discípulos de Emaús, escancarou-se para nós, em várias falas e ações, o sentido último da nossa alegria pascal, que é louvar ao Senhor por sua vitória e presença no meio de seu povo amado, mas não esquecendo a vida nua e crua, na qual estas celebrações em memória do Senhor estão inseridas.
Reencontrar ou mesmo descobrir, através dos testemunhos a respeito do Concílio Vaticano II, os sentimentos que moveram as ações do Papa João XXIII, inspirados no Evangelho e nos apelos que o mundo fazia há cinquenta anos, sintonizou-nos com a frequência que vibrava o coração do “Papa Bom”, suscitando em nós o desejo de continuarmos a lutar para que a Igreja não se perca ou se esqueça da importância do Movimento Litúrgico, Ecumênico, Bíblico, Socialista, que fizeram acontecer o Vaticano II e consequentemente as inúmeras iniciativas para se botar em prática as aspirações do Concílio.
Contudo, não deixamos de analisar também o atual contexto eclesial que se apresenta, especialmente quanto à Liturgia, que está sendo tomada como palco e não como “casa”. Trata-se de alguns movimentos pseudo conservadores, que tentam efetuar um retrocesso inconcebível, desejosos em recuperar o uso de um rito e consequentemente de uma eclesiologia, que por opção profética e evangelicamente coerente deixamos para trás, a fim de correspondermos àquilo que o Evangelho nos provoca nos dias de hoje. A Rede Celebra e outros tantos movimentos eclesiais lúcidos de sua missão e em plena sintonia com o caminho aberto pelo Vaticano II, assistem com pesar e tristeza estas tentativas alienadas, de conduzir a Igreja novamente à escuridão da anestesia social, enquanto seu dever é de avançar sem medo da novidade que vem por aí.


Neste ritmo vimos chegar a sexta-feira, onde a primeira parte da manhã foi reservada para a Leitura Orante dos textos do 16º Domingo do Tempo Comum, feita individualmente e seguida de uma partilha comunitária. Foi momento de muita riqueza, regar a semente da Palavra lançada em nossos corações e colhermos juntos os frutos desta Palavra, foi vivificante. Seguimos então, ansiosos, tranquilos, medrosos, animados... Eram muitos sentimentos que explodiam em nós quando dedicamos o restante da manhã à preparação dos últimos detalhes da missão que aconteceria no sábado. Foi lindo ver as pessoas portadoras destes sentimentos variados, abertas à ação do Espírito, falando e ouvindo, trocando ideias e experiências, aprontando-se para espalhar o Evangelho da Vida na semeadura que estava por vir. À tarde, um passeio pelas belezas naturais e arquitetônicas de Fortaleza nos ajudou a tirar um pouco da tensão e preocupação com a missão que nos aguardava.

No Domingo, celebramos a Eucaristia com cantos nos lábios, gratidão nas mãos e amor, muito amor a esta nova história que vai sendo tracejada por este povo sacerdotal. Alimentados pela Palavra e pelo Pão, sentimos que aquela celebração final não simbolizava de maneira alguma um adeus, mas o banquete da vida, nutrindo-nos para um novo desafio, afinal, nossos núcleos, nossas comunidades, nossa história nos aguardavam para continuarmos a construção de uma Igreja verdadeiramente aliada dos pobres, a serviço da justiça e da paz e celebrante de um Mistério que não se cansa de abrir-se, revelando-se a cada dia, Páscoa de Cristo na Páscoa da vida.
Ao povo da Rede Celebra, especialmente ao núcleo de Fortaleza, força, calor e confiança. Axé!
Marcelo Gomes de Barros, membro da Rede Celebra, núcleo Santa Rita-PB.
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