O Tempo do Advento, em poucas palavras
Eurivaldo Silva Ferreira
O Advento é caracterizado por duas
dimensões: o anseio pela última vinda do Senhor (nas duas primeiras semanas) e
a recordação de sua primeira vinda (nas duas últimas semanas) como preparação
imediata ao Natal. O sinal sacramental da espera, próprio do tempo, faz alusão
à segunda vinda de Jesus.
No início do
Ano Litúrgico, o Tempo do Advento relaciona-se com a proposta da Igreja que se
faz presente no mundo. Ela anseia pela vinda do Senhor, mas enquanto sua vinda
não se faz plenamente, celebra, louva e distribui os sacramentos, na esperança
de sua plena concretização. É como se vivêssemos as propostas do Reino (já),
mas não ainda em sua plenitude (ainda não). Por isso, este tempo em preparação
ao Natal do Senhor, suscita o desejo de que o Senhor venha. Eis o sinal
sacramental próprio do tempo: a espera.
Viver o
Advento é viver a espera da feliz expectativa da realização do Reino de Deus
entre nós. Mas essa espera é revestida de uma esperança escatológica (escathom, do grego = fim último), em
meio a tribulações e sofrimentos, assim como viveu o “Filho do Homem” (Lc
21,27), e que se torna sinal de esperança, sinal de que a salvação de Deus
prometida desde a Primeira Aliança (AT) está inserida na história humana,
conforme a profecia de Daniel.
No Tempo do
Advento, nossa atitude é de termos a cabeça erguida, de estarmos despertos e
acordados, como diz São Paulo na Carta aos Romanos, a fim de que percebamos no
decorrer da história os sinais de libertação, sobretudo nos acontecimentos
históricos, cujas imagens simbólicas próprias do tempo nos ajudam a compreender
como é que se deu no passado, trazendo para o ‘hoje’, tendo como ações
concretas dessas atitudes os princípios da vigilância e da oração, consequência
da santidade (frutos próprios do tempo). Essas atitudes preparam o coração para
a grande vinda, a escatológica (última vinda), e nos conforta sua presença
misteriosa através da ação litúrgica (memória da primeira vinda) e através dos
pequenos gestos realizados em prol do/a outro/a (vinda intermediária de
Cristo), mas que com o auxílio de Deus, isso é possível.
Enquanto que
nos dois primeiros domingos do Advento contemplamos pela escuta da Palavra e
pela oração da Igreja a segunda vinda de Cristo, nos dois domingos seguintes,
fazemos memória de sua vinda histórica, na carne, feito gente. A segunda vinda
de Cristo nos concede os bens prometidos na plenitude. Essa salvação é
concedida a todas as pessoas, ao mundo, ao cosmos, por isso homem/a mulher são
os responsáveis por acolherem a salvação, primeiro ‘abrindo o coração’, ‘aplainando
os caminhos’, ‘abaixando as montanhas’. As leituras e a oração da Igreja deste
tempo mostram isso: a alegria do povo que se volta, que espera, que permanece
fiel, na expectativa da vinda do Messias.
Celebrar no
Tempo do Advento é manifestar no rito e na vida um momento novo para a
humanidade nova, para o mundo novo. Se o Ciclo da Páscoa é marcado pelo
sacramento da alegria, o Tempo do Advento é um tempo em que celebramos
sacramentalmente a espera. De fato, a Igreja vive o tempo todo um eterno
Advento, na medida em que na liturgia eucarística aclamamos: “Vinde, Senhor
Jesus” e na oração do Senhor: “Venha a nós o vosso Reino”.
Maria, a
imagem da Igreja, é a portadora da Arca da Aliança, que traz em seu ventre o
sinal da salvação, por isso se entrega totalmente ao projeto de salvação de
Deus. Os personagens deste tempo nos ajudam a compreender como é que Deus age
em prol da humanidade a fim de salvá-la, guardando-a do mal, mostrando a todos
o verdadeiro Sol do Oriente, que ilumina todos os povos que andam por entre as
trevas, conforme canta Zacarias.
Esperamos que neste
Advento possamos ser como Igreja, povo de Deus, portadores da boa nova do Reino
de Jesus. Que nossas celebrações levem-nos a um verdadeiro compromisso da
edificação de seu Reino entre nós! A feliz expectativa do Reino seja o motivo
para celebrarmos o Cristo que vem.
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