25ª Semana Nacional de Liturgia
Eu não pude participar da Semana de Liturgia, realizada entre os dias 3 e 7 de outubro de 2011. Estava em Curitiba, num Congresso de Teologia da PUCPR. Mas, meu amigo Diuan Feltrin, de Birigui-SP, que é jornalista, e tem uma ótima redação, fez uma gostosa descrição do que foi a jubilosa 25ª Semana de Liturgia, realizada em São Paulo-SP. Espero que os/as leitores/as gostem. Eu gostei. É claro que eu não deixaria de publicar neste blog esta belíssima resenha do que foram esses dias. Boa leitura a todos/as.
Paróquia participa da 25ª Semana Nacional de Liturgia
“Pode juntar-se a mesa, vamos da ceia provar. Cristo, o mistério
pascal: és o mais fino manjar.” (Josenildo do Pajeú)
A Diocese de Araçatuba foi representada
pela Paróquia Imaculada Conceição de Birigui na 25ª Semana Nacional de
Liturgia, realizada entre os dias 3 e 7 de outubro na cidade de São Paulo. O
evento foi promovido pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo em
parceria com a Rede Celebra. O tema foi
“Liturgia e juventude: uma proposta de formação mistagógica”. Lideranças de
todo o Brasil trabalharam juntas em prol de um objetivo comum: construir uma
proposta metodológica de formação litúrgica com a juventude a partir da
realidade juvenil.
No primeiro dia do encontro, os
integrantes da Casa da Juventude de Goiânia (CAJU) fizeram memória dos temas
trabalhados nos anos anteriores. Depois disso, houve a justificativa do tema
escolhido para este ano, na qual os organizadores frisaram a importância de
resgatar a espiritualidade juvenil, que se encontra imersa no vasto rol de liturgias
midiáticas. Os cerca de 220 participantes foram subdivididos em grupos, de modo
a elencarem as inquietações e os desafios encontrados na relação liturgia e
juventude em nossas comunidades.
Essas discussões foram o ponto de
partida para todo o trabalho subsequente, que uniu teoria e prática a fim de
responder à questão de como superar tais desafios a partir de formação de
jovens para a compreensão do mistério que envolve a liturgia. Nos dias
seguintes, os participantes trabalharam teorias acerca do processo de formação
mistagógica (iniciação ao mistério), unindo-as à prática, num processo
denominado construção do conhecimento em conjunto.
Juventude
Para se trabalhar com a juventude
é preciso conhecê-la. Para isso, no segundo dia do evento, o sociólogo
especialista em juventude, Alex Pinheiro, e o filósofo Renato Almeida
trabalharam o tema Realidade Juvenil, momento no qual apresentaram as visões
sobre o vasto mosaico de diversidades que envolvem a juventude atual. Ser jovem
é uma condição de vida, que não pode jamais ser desvinculada da realidade. Por
isso, os assessores versaram sobre o fato de que a celebração não pode ser
relegada ao ritualismo aquém da realidade, pautado exclusivamente na emoção sem
compromisso social, como podemos ver em alguns grupos da Igreja.
Segundo eles, é necessário também
desconstruir o “juventudecentrismo” que domina a sociedade contemporânea, ou
seja, a visão falaciosa que reduz a juventude a uma classe a parte, com
responsabilidades diferentes das demais. É necessário fazer com que o jovem se
sinta integrante da realidade e da ação litúrgica, portanto, precisa-se “dar
voz àquele que está chegando”. Mas para que isso aconteça, segundo Pinheiro e
Almeida, “é preciso que os demais diminuam para que os outros possam crescer.”
Liturgia e Mistagogia
Também no segundo dia, Padre
Gregório Lutz falou sobre o que é liturgia, frisando o sentido teológico da
participação a partir do Concílio Vaticano II. Para ele, a liturgia é o grande
Amém do povo à obra salvífica de Deus. “A liturgia é a união entre a Páscoa do
povo e a Páscoa de Deus. É a antecipação da liturgia celeste, pois nos
possibilita unirmo-nos aos anjos e aos santos para celebrar por força do
Espírito, formando uma perfeita unidade”.
Dando continuidade à
fundamentação teórico-litúrgica do segundo dia, Padre Hernaldo Farias, assessor
de liturgia da CNBB, trabalhou o tema da metodologia mistagógica, que é a base
da formação litúrgica. Por mistagogia, se entende iniciação ao mistério, ou
seja, trata-se de processo de formar o indivíduo para que este enxergue além do
rito e do sensível, construindo a fé a partir da liturgia. Já por método,
Hernaldo frisou ser a maneira de ensinar segundo determinada ordem, ou seja, é
o “como fazer” e sua fundamentação; trata-se do caminho a ser percorrido para
se construir o conhecimento. A formação mistagógica jamais deve prescindir a
interpretação do rito em consonância com sua descrição e interpretação a partir
das Sagradas Escrituras, que dão fundamento a ação ritual.
Após a explanação de Hernaldo, Frei
José Ariovaldo da Silva, do Rio de Janeiro, propôs uma explicação acerca do
Ritual de Iniciação Cristã para Adultos (RICA), como caminho para a formação
mistagógica. Segundo Frei Ariovaldo, o RICA proporciona um “processo de transformação
vital e existencial, no qual os iniciantes mergulham no caminho proposto por
Jesus Cristo.” A base do RICA é a vivência do rito, na qual o indivíduo é
chamado a elaborar o rito enquanto integrante do processo, experimentando sua
essência.
Formar para a Liturgia
O terceiro dia da Semana de
Liturgia começou com a CAJU, esta apresentou sua experiência no processo de
formação litúrgica para jovens a partir da Escola de Liturgia, que possui uma
formação sistematizada de aprimoramento de lideranças juvenis que leva os
participantes a mergulharem de fato no mistério.
Em seguida, a doutora em teologia
dogmática com concentração em liturgia, Ione Buyst, explanou o tema “Formar
para participar na Liturgia”. Para Ione, é necessário primeiramente que se
pense na figura do jovem como novo ator social e, a partir daí, estabelecer a
formação para determinado tipo de juventude. Ou seja, é preciso conhecer o chão
onde se pisa. Ione afirmou que a liturgia deve estar a serviço do mundo e que,
portanto, deve estar voltada para a realidade.
“São inúmeros os grupos e movimentos que nos levam a pensar sobre para
qual tipo de liturgia queremos formar. O que se vê por aí é uma verdadeira
‘guerra litúrgica’ que deve ser superada”, criticou.
Ione partiu do pressuposto de que
o processo de formação litúrgica deve ser anterior à formação litúrgica
propriamente dita, porque os preliminares são condições indispensáveis para a
mesma. Antes de se formar para o “fazer liturgia”, o indivíduo deve ser levado
a recuperar sua sensibilidade mediante o cosmos e a si mesmo; é preciso ver
além das aparências e significantes; é necessário aprender a calar, a ouvir, a
cheirar e experimentar; é preciso instigar a busca pela harmonia entre fazer,
saber e saborear; é preciso buscar a inteireza do ser. Segundo Ione, sem esses
gestos básicos, trabalhados na técnica do Laboratório Litúrgico, não existe
liturgia.
Para Ione “é preciso ajudar a
pessoa a descobrir o mistério e instigar a tomada de consciência de que ela
está inserida no mistério. O mistério ocorre nos acontecimentos sociais. Por
isso é preciso discernir os sinais do mistério que acontecem na vida e não se
limitar somente à participação, mas sim, relacioná-la à missão”.
Técnicas para a formação mistagógica
Ainda no terceiro dia de
formação, os participantes formaram grupos nos quais estudaram e vivenciaram
técnicas específicas para uma formação litúrgica, com o olhar de como aplicar
esta técnica para a formação da juventude. As técnicas foram: Leitura orante;
Produção do conhecimento em mutirão; Método ver, julgar e agir; Laboratório
Litúrgico; Preparação da celebração (ofício, celebração eucarística dominical,
celebração da palavra, DNJ e ensaio de canto); Observação participante.
Após a participação nos grupos,
as experiências foram partilhadas na grande plenária. Cada grupo explorou as
particularidades da técnica estuda.
No sexto dia do evento, os grupos
deram continuidade a seus laboratórios, mas desta vez, evidenciou-se a
experiência. Todos iniciaram a vivência a partir do “despertar a consciência do
corpo”, etapa que visa o autoconhecimento, a inteireza do ser e o controle das
mais diversas emoções. Após esta etapa cada grupo fez sua vivência de atitudes
e gestos do corpo nos ritos iniciais, expressando o sentido teológico e a atitude
espiritual correspondente a um pequeno recorte desta parte da celebração.
Segundo Osmar Bezutte, padre e músico
da CNBB, o canto de entrada deveria integrar a assembleia ao mistério proposto
pelo rito, pois neste momento a comunidade participante vai sendo constituída. O
sinal sensível (letra, melodia, voz, canto) aí ressaltado no canto de entrada é
elemento contribuinte para essa constituição da assembleia.
Balanço geral
Ainda no sexto dia, os grupos
formados no primeiro dia da semana voltaram a se reunir. Desta vez, o objetivo
foi traçar um paralelo entre as inquietações e desafios elencados no primeiro
dia e as propostas trabalhadas no decorrer da semana. Cada grupo relacionou os
elementos a serem considerados no processo de formação litúrgica com a
juventude.
Após as reuniões em grupos
específicos os secretários se reuniram e estabeleceram um consenso entre as
ideias, que foram apresentadas na grande plenária da sexta-feira. Ficou em
evidência que a formação mistagógica deve ser um processo contínuo tanto para
os jovens quanto para os formadores, ou seja, a formação e atualização não
podem parar jamais. Quanto à metodologia de formação, deve-se partir sempre da
realidade do grupo estudado, por isso as técnicas ver, julgar e agir, bem como
a observação participante auxilia muito no processo de formação, pois ajudam os
assessores a compreenderem a totalidade do grupo que receberá a formação.
A Semana Nacional de Liturgia
2011 foi uma experiência enriquecedora. Além do conteúdo estudado durante todos
os dias, fica também válido como conteúdo as relações estabelecidas entre os
participantes, que proporcionaram compartilhamento de experiências. A
espiritualidade conduziu todo o encontro, com celebrações diárias do Ofício
Divino das Comunidades, Ofício Divino da Juventude e Celebração Eucarística.
Fica agora a missão a qual todos
foram enviados: levar às nossas comunidades uma nova proposta de formação para
o mistério litúrgico, levando os participantes a compreenderem a inteireza que
envolve as celebrações litúrgicas; é preciso reencantar o povo a viver o grande
mistério da vida.
Este desejo de ingressar na
missão foi representado pela grande ciranda, na qual todos embalados pelo ritmo
de “Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz”, foram enviados
às suas comunidades, com muita coragem e iluminados pela grandiosidade do
mistério da vida.
Diuan Feltrin – Pastoral da comunicação
Comentários