Viver bem a Quaresma buscando na liturgia a sua espiritualidade


Recebi esse artigo de um amigo meu chamado Eraclides. Achei muito interessante. Não tem autoria, mas como ele conviveu com as irmãs Pias Discípulas, a quem admiro e sou amigo, certamente foram elas que organizaram esse texto.

Minha recomendação é a de que possamos tirar da própria liturgia quaresmal uma fonte de espiritualidade, dela bebendo, aquela ao qual deseja e afirma a Sacrosanctum Concilium, nºs 10 e 102.

O TEMPO DA QUARESMA

O MISTÉRIO LITÚRGICO


Tempo privilegiado de conversão, de combate espiritual, de jejum medicinal e caritativo, a Quaresma ainda é, sobretudo tempo de escuta da Palavra de Deus, de uma catequese mais aprofundada, que recorda aos cristãos os grandes temas batismais, em preparação para a Páscoa.

Batizados na morte e ressurreição de Cristo, devemos viver segundo uma moral de ressuscitados, seguindo, não uma lei abstrata, mas o exemplo de Cristo, em sua obediência filial ao Pai.

No tempo da Quaresma, o povo de Deus empreende um esforço exigente, porém libertador, que deve abri-lo ao chamado do Senhor e da comunidade cristã. Privando-se do alimento terreno, nas múltiplas formas que se lhes apresentam, aprenderá a saborear, acima de tudo, o pão da Palavra de Deus e da Eucaristia, e melhor sentirá o dever de dividir os bens com os outros.

O Concílio Vaticano II recomenda que “a penitência quaresmal não seja só interna e individual, mas sobretudo externa e social. E a prática penitencial, segundo as possibilidades do nosso tempo e das diversas regiões, como também consoante as possibilidades dos fiéis, icentivada e... recomendada” (SC 110).

Celebrar a Eucaristia no tempo da quaresma significa:
percorrer, juntamente com Cristo, o itinerário da provação que pertence à Igreja e a cada homem;assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai e o dom de si aos irmãos, que constituem o sacrifício espiritual.(In: Missal Cotidiano - Missal da Assembléia Cristã, Paulus, São Paulo, 1985. 7 ed. p.160 / Centro Catequético Salesiano de Turim).

“Com a alegria do Espírito Santo e cheios do desejo espiritual, esperemos a santa páscoa.” Regra de São Bento, 49,7)

“A quaresma tem sabor de páscoa quando é focalizada a pessoa de Jesus Cristo, que se aproxima do pecado humano”. (Penha Carpanedo)

Itinerário litúrgico-pedagógico da quaresma no ano C
Visão a partir das leituras dominicais

Conforme a organização dos textos bíblicos a serem proclamados nos Domingos do Tempo da Quaresma, o ciclo trienal apresentado no I Lecionário (anos A, B e C) nos proporciona grandes retiros com temas centrais bastante específicos, sobretudo a partir do terceiro domingo. No ano A o tema central é o Batismo (Quaresma batismal), no ano B a Aliança (Quaresma cristocêntrica) e no ano C a Conversão (Quaresma penitencial).

Para as comunidades onde há catecúmenos, como forma de preparação imediata para os sacramentos da Iniciação Cristã, recomenda-se que todos os anos se repitam os textos do ano A.

Os textos para as Orações do dia da segunda edição italiana do Missal Romano e a seqüência dos textos para a I Leitura e o Evangelho nos domingos do ano C, elucidam a dinâmica da Quaresma penitencial.

1°domingo:
“Senhor nosso Deus, ouvi a voz da Igreja que vos invoca no deserto do mundo; estendei sobre nós a vossa mão, a fim de que, nutridos com o pão da vossa palavra e fortificados pelo vosso Espírito, vençamos, com o jejum e a oração, as contínuas tentações do maligno”.

I Leitura – Dt 26,4-10
Memória (anamnese) diante do Senhor oferecendo-se as primícias da terra (dimensão teofânica, pois Deus assim ordena que se realize), antecipação da Eucaristia.

Evangelho – Lc 4,1-13
A tentação no deserto. Jesus é a imagem do novo Adão, pois vence a concupiscência da carne, dos olhos e a soberba.

2º domingo: “Deus grande e fiel, que revelais a vossa face a quem vos procura de coração sincero, reforçai a nossa fé no mistério da cruz e daí-nos um coração dócil, a fim de que, na adesão amorosa à vossa vontade, sigamos como discípulos de Cristo vosso Filho”.

I Leitura – Gn 15,5-12.17-18
No sacrifício das vítimas (animais) Deus passa, representado na chama de fogo (teofania) para dizer que aceita esse sacrifício . É uma prefiguração da Eucaristia.

Evangelho – Lc 9,28b-36
No relato da Transfiguração a Comunidade de Lucas é a única a enfatizar que Jesus subiu a montanha para rezar. Para essa comunidade a oração transforma, transfigura.

3º domingo:
“Pai santo e misericordioso, que jamais abandonais os vossos filhos e a eles revelais o vosso nome, quebrai a dureza da nossa mente e do nosso coração, a fim de que saibamos acolher, com a simplicidade das crianças os vossos ensinamentos e produzamos frutos de verdadeira e contínua conversão”.

I Leitura – Ex 3,1-8a.13-15
Na sarça ardente um encontro com o Senhor (teofania) que diz: “Sim, conheço os seus sofrimentos[...]” em resposta Moisés pronuncia firmemente: “Sim, eu irei aos filhos de Israel[...]”.

Evangelho – Lc 13,1-9
Parábola da figueira poupada no meio da vinha. A urgência da conversão. Para a comunidade de Lucas a árvore é símbolo de todos os homens.

4º domingo:
“Ó Deus, Pai bom e grande no perdão, acolhei no abraço do vosso amor todos os filhos que voltam para vós com a alma arrependida; recobri-os com esplêndida vestes de salvação, a fim de que possamos apreciar a vossa alegria na ceia pascal do Cordeiro”.

I Leitura – Js 5,9a.10-12
Comer do fruto da terra é sinal da páscoa (teofania). A jornada do povo hebreu começou na saída do Egito (era Páscoa), da mesma forma a entrada e a posse da terra prometida é marcada com a Páscoa.

Evangelho – Lc 15,1-3.11-32
Nesse capítulo a Comunidade de Lucas relata três parábolas. A terceira o “Pai misericordioso”, revela que depois do pecado, a consciência (“Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura[...]”) é a única chave para o arrependimento e a conversão.

5º domingo:
“Deus de bondade, que renovais em Cristo todas as coisas, diante de vós está a nossa miséria: vós que nos enviastes o vosso Filho unigênito não para condenar, mas para salvar o mundo, perdoai toda nossa culpa e fazei que refloresça em nosso coração o canto da gratidão e da alegria”.

I Leitura – Is 43,16-21
Deus promete: “Eis que eu farei coisas novas, [...]”. Quer dizer, até mesmo a libertação do Egito ficará pequena diante de tudo o que vai acontecer. O texto é promessa messiânica (teofânica).

Evangelho – Jo 8,1-11
A comunidade de João usa o mesmo estilo de Lucas nesse trecho do seu evangelho para dizer que a misericórdia de Deus rompe as barreiras do preconceito, da intolerância. Jesus não interroga a Mulher (a tradução dos textos para a liturgia não usa o termo pecadora), simplesmente, perdoa.

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