Eucaristia: sacramento de transformação pessoal e universal


Eurivaldo Silva Ferreira

Em nosso último artigo falamos sobre a questão da inteireza do ser conseguida pela meta dos sacramentos na nossa vida. Neste sentido, a Eucaristia se faz ponto e cume da nossa ação sacramental, pois, através da ação ritual, ou seja, do celebrar o rito, ela nos torna “oferendas perfeitas ao Pai”. Falamos também da união dessa possibilidade de ação, isto é, daquilo que pretende o sacramento, com a ligação de sua conseqüência em nossa vida. Tudo isso ligado á fé, pois fé e vida caminham juntas. A Igreja diz que a norma da oração é a norma da fé e vice-versa. Também falamos da natureza dialogal da nossa adesão à fé, uma vez concedida através dos sacramentos e da nossa inserção na vida da Igreja através dos sacramentos da iniciação cristã.

Neste artigo vamos tratar da celebração eucarística, a Missa, por assim dizer, e como ela pode se tornar, dada sua natureza sacramental, um verdadeiro caminho para adentrarmos no mistério pascal e a partir dele transformarmos a nós e ao mundo. É claro que o mistério não é propriedade da liturgia, mas este mistério não é possível ser alcançado sem a mediação litúrgica, é por isso que celebramos. Celebramos não porque desejamos racionalizar nossa fé, mas porque desejamos que ela mesma possa nos transportar ao mistério pascal, evento-base que dá sustento à nossa fé.

Na missa nossa relação com Deus é de diálogo: depois dos ritos iniciais, na liturgia da Palavra, Deus nos fala e nós ouvimos, é o conjunto das leituras proclamadas e cantadas e da homilia. Em seguida, damos nossa adesão à Palavra, professando nossa fé no Creio, e respondemos a esta mesma Palavra, suplicando pelas necessidades do mundo, na oração dos fiéis, pois queremos que todos também façam sua adesão a essa fé.

Já na liturgia eucarística, lembramos dos grandes feitos de Deus na história, enviando seu Filho e ele mesmo se fazendo oferta ao Pai. Damos graças por isso, fazemos memória e suplicamos ao Pai que acolha nossa oferta. Esta mesma oferta, que é Jesus Cristo, o Verbo feito carne que se faz alimento para a comunidade, é a hora da partilha, da comunhão. Comemos e bebemos juntos num gesto de comunhão fraterna. O rito da partilha reforça nossa ação também fora da missa, no cotidiano.

Finalmente, levamos essa memória para nossas vidas, onde passamos a glorificar a Deus nos nossos gestos e ações do cotidiano. Na bênção final somos conduzidos a proclamar o mistério já fora do rito, na vida normal, na família, na escola e no trabalho. Ao despedir a assembleia, o diácono sempre diz: glorificai a Deus com vossas vidas!...

Todas essas ações transcendem o agir da comunidade reunida que se oferece para glorificar ao Pai e se edificar ao mesmo tempo. Essa relação se dá desde a escuta da Palavra até a comunhão eucarística. Os elementos da celebração eucarística: ritos iniciais, liturgia da Palavra, liturgia eucarística e ritos finais são os fios condutores para adentrarmos no mistério. Aliás, adentramos no mistério com as nossas fraquezas e deficiências, mas os ritos condicionam as nossas posturas, eles nos dão a possibilidade de “nos reerguermos” e nos potencializar para fazermos isso com inteireza. Contudo, as características não muito positivas de nossa pessoa são também transubstanciadas na missa, que é Eucaristia, banquete, ação de graças. É essa a nossa meta, na "carona" que pegamos com Cristo, ao se ofertar ao Pai, somos transformados como oferenda. Vale a pena repetir o que disse no artigo anterior: de fato, rezamos e cantamos na prece eucarística: “fazei de nós uma perfeita oferenda”.

Portanto, podemos concluir que celebrar a Eucaristia nos coloca neste patamar: o da transformação universal. É a partir daí que estendemos o mistério para nossa ação social, tornando comunhão, partilha, ação de graças, todos os momentos de nossas relações diárias, seja com a família, com os vizinhos, com o bairro, com a cidade, com o mundo, com o a ecologia e todo o cosmos.

Já no plano da transformação pessoal, o mistério pascal que celebramos na Eucaristia tem a potencialidade de nos conduzir a esse fim, afinal de contas, transformando-me na Missa, não só com o rito, mas com o processo existencial que toca em minha intimidade, minha individualidade, mais que qualquer outra coisa, dou início à transformação do mundo que o Senhor deseja e da qual quer fazer-me instrumento.

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