O Tempo do Advento: Vem, Senhor Jesus!
Eurivaldo Silva Ferreira
O Tempo do Advento, pelo qual se inicia
um novo Ano Litúrgico, relaciona-se com a proposta da Igreja que se faz
presente no mundo. Ela anseia pela vinda do Senhor, mas enquanto sua vinda não
se faz plenamente, celebra, louva e distribui os sacramentos, na esperança de
sua plena concretização. Este tempo, em preparação ao Natal do Senhor, suscita
o desejo de que o Senhor venha. Tanto no Tempo do Advento como no Natal dá-se a
realização plena do mistério pascal de Cristo, tudo pela ótica do seu
nascimento e de sua concepção terrena, porém, sem perder de vista a
ressurreição, pela qual passaremos um dia, ocasião em que pertenceremos à
comunidade dos justos (cf. Oração Inicial do 1º Domingo do Advento). Eis o
sinal sacramental próprio do tempo.
O conteúdo presente nos sinais
sensíveis da liturgia desse tempo (leituras, personagens, músicas, gestos,
imagens, paisagens...) podem levar os que creem a vivenciarem melhor esse tempo
com sinais de que suas certezas não são em vão, e de que o Reino de Deus, ainda
que demore, pode ser uma realidade do hoje, vivendo-se a tensão do “já” e do
“ainda não”, como afirma São Bernardo. As atitudes de expectativa, de espera e
de esperança da firme concretização do Reino de Deus são índoles da própria
Igreja, que vive neste mundo sob o influxo do domínio do mal, mas que ‘geme e
sofre como que em dores do parto’.
Portanto, viver o Advento é viver com
uma alegre e feliz espera na expectativa da concretização do Reino de Deus
entre nós, através da segunda vinda daquele que veio na carne humana, ocasião
em que se dará a feliz realização do Reino. Mas essa espera é revestida de uma
esperança escatológica (escathon, do
grego = fim último), em meio a tribulações e sofrimentos, assim como viveu o
“Filho do Homem” (Lc 21,27), e que se torna sinal de esperança, sinal de que a
salvação de Deus prometida desde o Antigo Testamento está inserida na história
humana. Acerca da instauração do Reino de Deus, com a vinda de Jesus, acorremos
às profecias de Daniel.
No Tempo do Advento, nossa atitude é de
termos a cabeça erguida, de estarmos despertos e acordados, como diz São Paulo
na Carta aos Romanos (cf. 2ª leitura do 1º Domingo – Ano A), a fim de que
percebamos no decorrer da história os sinais de libertação, que passa pela
palavra e pelo conhecimento, sinal da graça concedida ao Cristo por Deus (cf.
2ª leitura do 1º Domingo – Ano B). Os sinais de libertação são reconhecidos, sobretudo,
nos acontecimentos históricos, cujas imagens simbólicas próprias do tempo nos
ajudam a compreender como é que se deu no passado, trazendo para o ‘hoje’ (cf.
todas as Primeiras Leituras dos Anos A, B e C), tendo como atitudes os
princípios da vigilância e da oração, consequência da santidade (frutos
próprios do tempo). Essas atitudes preparam o coração para a grande vinda, a
escatológica (última vinda), e nos conforta sua presença misteriosa através da
ação litúrgica (memória da primeira vinda) e através dos pequenos gestos
realizados em prol do/a outro/a (vinda intermediária de Cristo), mas que com o
auxílio de Deus, isso é possível.
A segunda vinda de Cristo nos concede
os bens prometidos na plenitude. Essa salvação é concedida a todas as pessoas,
ao mundo, ao cosmos, por isso o homem/a mulher são os responsáveis por acolherem
a salvação, primeiro ‘abrindo o coração’, ‘aplainando os caminhos’, ‘abaixando
as montanhas’. As leituras deste tempo mostram isso, a alegria do povo que se volta,
que espera, que permanece fiel, na expectativa da vinda do Messias.
Podemos dizer que celebrar o mistério
pascal no Tempo do Advento é manifestar no rito e na vida um momento novo para
a humanidade nova, para o mundo novo. De fato, a Igreja diz que é necessário se
viver num eterno Advento, afastando o mal, pois Deus age como um agricultor que
recolhe os grãos no celeiro, ou como um lenhador, que coloca o machado ao toco,
pronto para cumprir sua missão.
Maria, a imagem da Igreja é a portadora
da Arca da Aliança, no seu ventre, sinal da salvação, por isso se entrega
totalmente ao projeto de salvação de Deus. Maria é, portanto, a nossa imagem. Os
personagens deste tempo nos ajudam a compreender como é que Deus age em prol da
humanidade a fim de salvá-la, guardando-a do mal, mostrando a todos o
verdadeiro Sol do Oriente, que ilumina todos os povos que andam por entre as
trevas, conforme canta Zacarias. Com Maria, vivendo a sobriedade do Tempo do
Advento, a Igreja canta o Maranatha:
Vem, Senhor Jesus! Este canto se traduz ao
mesmo tempo em suplica ao Pai, pelo qual a Igreja pede a graça de conceder-lhe
celebrar o nascimento de Jesus, que é festa de prazer e salvação, com alegria
transbordante! (cf. Oração Inicial do 3º Domingo do Advento).
Que neste Advento possamos
compreender na expressividade da liturgia o entendimento da compreensão do
mistério da encarnação e glorificação de Cristo, mistério que se desdobra em
pequenos aspectos durante todo o Ano Litúrgico. Tendo como princípio esta
pedagogia, também nós possamos viver na Igreja a grande liturgia do mundo, ansioso
pela espera do Senhor que vem, mediante os sinais e as palavras, as imagens e a
paisagens, os personagens e as promessas, próprios do Tempo do Advento.
Comentários