Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2008

AS FONTES BÍBLICO-PATRÍSTICAS DA MÚSICA LITÚRGICA

Imagem
por António José Ferreira Na Igreja Católica, o regresso proposto pelo II Concílio do Vaticano às fontes da teologia e da liturgia, leva-nos a fundamentar, na Bíblia e nos Padres da Igreja, a utilização litúrgica da música. Muitas vezes foram citados convites bíblicos ao canto nos padres da Igreja e no magistério ( 1 ) e, desde o início, a liturgia recorre aos salmos, a hinos e cânticos da Escritura. O saltério, os hinos primitivos e a ótica patrística da música na liturgia ajudam a responder a esta questão: o que é a música litúrgica? 1. PRIMEIRO TESTAMENTO: O SALTÉRIO As mais de seiscentas referências musicais ( 2 ) que podemos contar em toda a Bíblia, geralmente do culto pós-exílico em que se distingue o culto no templo e o culto sinagogal, refletem uma vasta gama de situações e sentimentos: derrota e vitória, o amor e o sofrimento, a tristeza e a alegria da vida quotidiana, ensino e festa. A música reflete o diálogo de Deus com o homem, na Palavra e na resposta. Nela se encontram o

A música ritual como linguagem

Imagem
Eurivaldo S. Ferreira Pesquisando “O Mistério celebrado: memória e compromisso” [1] , encontramos a seguinte citação de Ione Buyst em relação ao canto ritual: Ao mesmo tempo, terá que ser um canto que leve em conta o chão da vida dos pobres, e que seja expressa na cultura musical da comunidade celebrante, para que possa participar de verdade. De fato, cada comunidade (celebrante) tem sua fisionomia; cada grupo de pessoas tem suas características, dependendo de sua etnia, cultura, idade, condição social, nível de aprofundamento na fé. A partir disso é importante pensarmos sobre a destinação e a forma que nossa música ritual irá tomar. Primeiramente, devemos compreender a dimensão da música e do canto ritual. Não se trata mais de uma simples música sacra, contendo apenas elementos da piedade popular e do conhecimento religioso de alguns quantos que se propõem a compor. A música ritual exigida na liturgia é aquela que, ou cantem os próprios textos da liturgia, ou acompanhem os vár

Música brasileira na liturgia

Imagem
Eurivaldo Silva Ferreira Para Dottori [1] , vale a pena lembrar que a música só pode ser considerada uma linguagem se desconsiderarmos a semântica. Semântica é o estudo das palavras ou translações sofridas, no tempo e no espaço, pela significação das palavras, ou ainda o estudo da relação de significados nos signos e da representação do sentido dos enunciados [2] . A questão da semântica na música brasileira foi muito controversa. Para alguns, isso era norma, entretanto para outros, o que valia era o enveredamento para a música européia, isto é, sem signos, apenas com a presença de audição rebuscada sem tradição cultural. No Brasil, essa música com caráter cultural, passou a ganhar um espaço maior. Mario de Andrade foi seu maior representante, seguido de Villa-Lobos, cuja influência marcaram suas composições. Foi o chamado período Nacionalista ou simplesmente Nacionalismo. Em se tratando das inúmeras discussões decorridas da música nacionalista, com seus caracteres absolutamente arraig

Música ritual no Tempo do Advento

Imagem
Eurivaldo S. Ferreira A dimensão da piedosa e alegre espera nos sugere um canto [1] 1. Ó vem, ó vem, Emanuel! És a esperança de Israel! Promessa de libertação, Vem nos trazer a salvação! Dai glória a Deus, louvai, povo fiel, virá em breve, o Emanuel. 2. Ó vem aqui nos animar, as nossas vidas despertar, dispersas as sombras do temor, vem pra teu povo, ó Salvador! 3. Ó vem, Rebento de Jessé, e aos filhos teus renova a fé, que possa o mal dominar e sobre a morte triunfar! 4. Vem, esperança das nações, habita em nossos corações, toda discórdia se desfaz, Tu és, Senhor, o rei da paz! O “Ó Vem, Emanuel!”, que ressoa no canto de abertura dos domingos do tempo do Advento, tem íntima ligação com o cântico de Miriam ou de Moisés, depois da passagem do Mar dos Juncos (Ex 15). O seu completar dá-se somente no Apocalipse, com o Canto do Cordeiro (Ap 15,2-4). Os Padres da Igreja deram uma importante interpretação para estas duas passagens, as quais traduzem como “cântico novo”, a expressão da manif

A música ritual como símbolo

Imagem
Eurivaldo S. Ferreira Em se tratando de cantar e tocar uma música ritual, se esta música possui a faculdade de realizar a união de todas as vozes da assembléia, na unidade de uma mesma melodia, esta mesma comunhão sonora de vozes diferentes parecerá aos Padres da Igreja como o símbolo de uma realidade mais profunda [1] . Portanto, para eles, o canto comunitário é a manifestação externa da união dos corações na mútua caridade, é sinal da fraternidade espiritual entre os todos os membros da assembléia, reunida em culto [2] . E acrescentam: o canto enquanto uníssono ainda é um símbolo mais expressivo da unidade espiritual da assembléia litúrgica, cuja imagem retrata o uníssono dos corações [3] . É também São João Crisóstomo que afirma que no canto a uma só voz há uma realidade simbólica da Igreja, que de muitos membros forma um só corpo. Outros Padres foram unânimes em afirmar que o canto ritual, por ser uma atividade agradabilíssima ao homem, exerce um extraordinário serviço à atualizaçã

Símbolos. O que são?

Imagem
Eurivaldo S. Ferreira Sabemos que a liturgia se expressa por meio de símbolos, ou ações simbólicas, portanto símbolo ou ação simbólica trata-se de um sinal, ação visível ao nosso corpo, sensível, que quer trazer presente o invisível, sensível ao coração e ao espírito. A justificativa para o uso do símbolo é que ele se apropria de uma linguagem mais completa, ultrapassa e complementa o pensamento racional, porque não toca apenas a nossa inteligência, toca nosso corpo (visão, tato, olfato, audição) e através do corpo a nossa emoção, nosso sentimento, o nosso coração. Deste modo a Sacrosanctum Concílium afirma que a liturgia se expressa por meios de sinais sensíveis [1] . Gestos e palavras, música e silêncio são sinais sensíveis, ou seja: sinais que atingem o corpo, e por meio dos sinais a assembléia reunida entra em relação com o Mistério. Assim, podemos concluir que a liturgia é a expressão visível que simboliza uma realidade invisível. Então, por uma questão de necessidade corpórea, pr

A origem do Ciclo do Natal

Imagem
Eurivaldo S. Ferreira Para muitos, é fato realmente estranho começar o ciclo do Natal em pleno mês de dezembro. Marcelo Barros conta num artigo que escreveu sobre um amigo que muito se espantou quando foi à missa no início do Advento e disseram-lhe que naquele dia começava o ano novo na Igreja – era tempo de preparação para o Natal. Ele imaginou que iria participar de uma festa. No lugar disso, viu o altar e o padre vestidos de roxo e escutou o Evangelho do fim do mundo. Ele não entendeu nada. Para os cristãos, a catequese do Natal será melhor compreendida quando encaramos o nascimento de Jesus – 25 de dezembro – não como um fato histórico, mas a partir da compreensão de que ele, sendo o Sol das nossas vidas, toma forma e jeito de criança, se faz homem e visita a terra, que por sua vez está grávida de seu amor e de sua salvação. Já São Leão afirmava no século V que toda celebração litúrgica contém um “mistério”, pois, a partir da memória do que aconteceu, os cristãos são incorporados a